Enredo de dentro

Bueno
3 min readJan 9, 2020

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Baseada num sonho romântico do meu próprio ser, tirei um cochilo e acordei Chanel.
Um impulso levado pelo que quero ser e busco tanto, me faz pegar a tesoura de unha e tirar um resto daquela que se foi.
Acordei Cinderela no país onde tudo é possível. Fui dormir metade e acordei inteira.
Essa tarde de sábado sem nenhum lugar pra ser ou descansar, me leva a loucura por uns instantes: exaustão.
Então eu deixo meu eu, escondido atrás de longas madeixas, sair de dentro pra fora, pular pelas grades e crescer que nem semente.
Me sinto leoa, forte e graciosa como nunca fui pra esses olhos, não pros meus.
Um fio de canção soa nos ouvidos e mostra que lindo pode ser, apenas ser.
A beleza de assumir os sonhos mais altos e saber que sim, eles podem, apenas ser.
Você, que era pequena e não se conhecia, hoje despenca da mais alta colina que já se pôs e dá piruetas no ar.
Eu que me imaginava de volta em cima de um palco e que sonhei cantar pro mundo, não sabia que a canção que precisava ouvir era essa que vivi, respirei e conheci tanto, por esses meses. Jamais acreditaria que o enredo de dentro traria tanto à tona, viraria de ponta cabeça e explodiria no sábado às 6.
Luz baixa, aquele livro indiano me encanta e quase me põe a dormir.
Eu assumo essa que decido ser.

Fecho meus olhos e estou sonhando, sonhando…
Estou de volta.
Dali de onde eu vim, as pessoas ainda se abraçam no cumprimento e olhos se enchem ao me ver.
Bom dia, você está em casa.

Então, aquele ser completamente dono de si e cheio de certezas, cai de paraquedas exatamente no lugar de onde veio.
E se fosse assim fácil, não teria nem graça. Mas ninguém disse que seria tão dificil, Intenso, enlouquecedor.

Perdida no meu próprio lar.
Meu eu de antes não me permite ser quem sou, quem fui me confunde com quem preciso ser.
Estranham meu feminismo aflorado, não sabem que eu cozinho ainda melhor.
De onde saiu essa auto- estima? Quando é que você ficou tão magra? Ainda não tem ninguém?
Se tem uma coisa que o voltar é capaz de lembrar, é de como fazia sentido um eu que já fui, e como me orgulho desse novo.
Sempre que volto pra cá, encaro as mesmas perguntas.
É sempre um desafio continuar a ser quem me proponho em um lugar que nunca muda.

A princesa Chanel nada desbocada, por fim, começa a botar as asas de fora
Desaba uma tarde nos braços da mãe.
Ouve uma canção e se lembra de quem se tornou.
Cruza uma esquina e se afirma com os seios soltos na blusa de cetim.
Ela continua completamente perdida andando pelas ruas…
Mas não tenta mais explicar o que a nova tatuagem nas costas significa. Não faz mais questão de se esconder, e até aprendeu a ouvir os elogios, sim, e rechear seu ego com eles.
Soube que andou seduzindo rapazes desavisados que não sabiam que seu sorriso estava de volta, ainda mais sexy.
E, apesar do turbilhão, ela ainda tem tempo pra saudade, lágrimas e uma cerveja.

Vai se achando nas pequenas conversas diárias e se buscando em cada passo que dá.
Desconstrói e se reconstrói, a cada dia.
Transpira seu povo, sua terra e se sente feliz a cada olhar encontrado na rua.
Está de volta
Nova
Outra
Mesma
Pra sempre, só dela.

06/06/16

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Bueno

Escrever é remoer o que me aflige. Passando as dores a limpo, eu floresço.